13 março 2007

A Gaveta das Meias

Desde que me mudei para casa dos meus pais que sou incapaz de seguir o ciclo da lavagem da roupa. E foi esta a maior alteração na minha vida doméstica. Por não ser eu a tratar da roupa, nunca sei em que fase está aquilo que quero vestir. Pode estar para passar a ferro, no cesto da roupa suja, pendurada a secar...nunca sei. Tenho um acordo com a minha mãe para que a minha roupa não seja guardada dentro do armário. Depois de passada a ferro fica dobradinha em cima da cadeira do meu quarto. E até eu me dar ao trabalho de a arrumar, alí fica ela. E como sou muito desarrumada, tenho a certeza que muitas peças de roupa nunca saíram de lá. Este acordo foi feito para evitar que eu retire tudo do armário para encontrar o que quero. Se sou eu que as guardo, já sei onde estão. Na semana em que este acordo entrou em vigor, tinha dezenas de cruzetas penduradas por todo o lado. A minha mãe não era capaz de deixar tudo espalhado pelo quarto, como eu fazia, e insistia em pendurar tudo, mas, respeitando o nosso acordo, não as punha dentro do armário. Gosto muito da forma como a minha mãe respeita os acordos que lhe imponho, estes pequenos abusos à hospitalidade dos meus pais.

O que me diverte mais são as coisas que encontro dentro da gaveta das meias, e que não me pertencem. Aposto que hoje o meu pai saiu de casa com as minhas soquetes pretas, porque eu fui ao ginásio com umas meias que nunca tinha visto antes e que me ficam grandes.

Gosto de pensar na animação que proporcionei à minha roupa interior quando me mudei para cá. Quando me vou deitar imagino as festas nocturnas dentro da gaveta, onde as minhas cuecas piscam o olho às meias desconhecidas e os soutiens convidam para dançar uns collants nunca vistos. Deve ser fixe morar naquela gaveta, sempre a receber visitas.

1 comentário:

Eva Antunes disse...

Esta é a nossa Claudinha - divertida e disparatada. :)