
Tenho muitas saudades também de Chefes Executivos gordos e muito abrutalhados que gritam 8 horas por dia para pôr uma cozinha a funcionar. Sempre me dei bem com os Chefes de Cozinha. Principalmente com um alemão de um metro e noventa de altura e com uma barriga provavelmente da mesma dimensão. O senhor estava determinado em pôr-me na engorda. Sempre que ia à cozinha, tinha que provar qualquer coisa que ele estava a preparar. Quando gritava comigo porque tinha feito asneiras (entre outras coisas eu era coordenadora de catering), agarrava-me pelo braço, empurrava-me para dentro do frigorífico com ele e dava-me um gelado. Um pedido de desculpa pelos decibéis a que tinha sujeitado os meus ouvidos. Quando trabalhava pela noite dentro e ele me via cansada, vinha ter comigo com uma goluseima. Chegava-se perto de mim – felizmente não muito perto porque a barriga não o permitia – e, com os dedos gordos, punha-me as franjas atrás da orelha. Quando me via durante a tarde a vir da cantina com uma lata de Coca-Cola Light na mão, agarrava-me pelo pulso e dizia-me que se eu continuasse a beber daquilo, nunca mais engordava!!! Chamava-me sempre à cozinha quando estava a fazer pratos exóticos: puré de batata roxa do Chile, carne de gazela da África do Sul, folhados de espargos com molho bechamel…
No dia em que vim embora, deixei as últimas despedidas para a cozinha. Deparei-me com um senhor grandalhão muito emocionado porque nunca mais íamos trabalhar juntos e porque nunca mais podíamos ter conversas sobre comidas do mundo e sobre os países todos onde ele tinha trabalhado. Deu-me um abraço com tanta força que eu senti-me sufocar naquela barriga gigantesca.
Partir tem destas coisas. Deixa muitas histórias para recordar. E eu gosto muito de me lembrar das pessoas que gostei de conhecer. Principalmente das que me dão de comer e acham que preciso de engordar.
8 comentários:
é uma estoira muito bonita
obrigado por partilhares
Sei que pode parecer história, mas eu sei bem o que isso é.
Trabalhei muitos anos (toda a minha adolescência) num hotel, inclusive, morei toda a minha adolescência num hotel.
Trabalhei no bar, no restaurante, pouco na recepção, na copa, na lavandaria, na cozinha (adoro fazer tapas e entradas).
Conheci e fiz amigos de todo o mundo, da Suécia à Nova Zelândia.
Um dia disse basta, mas ainda hoje penso em voltar.
Por muita coisa que tenha feito na vida, nenhuma proporciona a felicidade de sentir o sorriso de um cliente que viajou 5000 km e se sente em casa.
Eu um dia também disse basta. Era tanto trabalho, tanto stress, tanto abuso de clientes que sem problemas nos insultam e gritam, que eu pensei que não aguentava mais. Mas agora acho que até tinha estofo para aquilo e tenho saudades. E ainda tenho guardada uma carta de um cliente a agradecer-me pelo que fiz por ela. E sabem bem estas coisas.
Cláu, desde que foste "fazer-te à vida" por esse mundo que embarcaste numa viagem sem retorno - as saudades. Vais tê-las e vais deixá-las sempre. Cá ou lá.
Gosto muito de te ter cá!
E mais, mana pequena: o teu blog está cada vez melhor.
Portugal só tem a perder se te fores embora... não vás, sim?
Dá mais um voto de confiança ao nosso Portugal e conta comigo, afinal estamos mm ao lado uma da outra ;)
Sofia
Portugal só tem a perder se te fores embora... não vás, sim?
Dá mais um voto de confiança ao nosso Portugal e conta comigo, afinal estamos mm ao lado uma da outra ;)
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