
Oil on wood, 76 x 61.5 cm. Modern Tate
Senti-me muitas vezes assim. Deitada na cama, depois de sentir nada, nem preenchida, nem que alguma coisa tivesse sido ganha. Ninguém entrou dentro de mim, não fui tocada, não senti alegria. Ficava deitada na cama, com alguém ao meu lado com a mesma indiferença. Fazem-se as coisas porque sim. Talvez porque é diferente para os homens, ou talvez não. Por solidão, porque houve a oportunidade, por acreditarmos que desta vez vai ser diferente. Por vaidade, pela conquista, porque na altura pareceu boa ideia. Uma forma de fugir ou de esquecer qualquer coisa ou alguém. Dá-se pouco, recebe-se menos, e um véu fica sempre no meio como uma barreira, e nao permite que seja mais do que o pouco que é.
As pessoas sozinhas são assim. Procuram companhia, mesmo sabendo que não vão trazer mais nada para além disso. Habituadas a não pedir nada e a não esperar nada. Ficam deitadas, apáticas. Porque desta vez podia ter sido diferente ou já a saber que era só isto e mais nada. Sem alegria, sem um sorriso. Já dias houveram em que sabiamos a diferença. Davamos muito a quem nos dava de volta. E é por isso que se sabe a diferença. Não tem sempre que ser assim. Mas cada vez mais, é só isto que esperamos. Alguém ao nosso lado que podia não lá estar. E que cada vez menos nos faz falta. Não me deu nada a não ser mais tristeza. E fico deitada na cama com ar de enfado . Não sei que mais esperava.
4 comentários:
Essa experiência é uma ou mais, dependendo de quem somos mas que temos mesmo de passar para entendermos o que realmente esperamos encontrar quando nos lançamos numa tal partilha.
Se começamos com o sentido de perda mesmo antes de sequer partirmos em tal "corrida", para quê partir então?
Será apenas por termos a esperança de que o fim nos irá surpreender?
Acho que quando chegamos ao fim e vemos que nada mudou nesse final, embora difícil, não há que nos fustigarmos pois o que nos levou a tal, foi a esperança consciente ou não de que procuramos e, no fundo acreditamos num fim diferente.
Podemos dar muitos nomes ao que nos faz por cá viver mas, acima de tudo, o que prevalece é a esperança.
Sem esperança não há futuro.
Não te fustigues muito mas apenas o suficiente se achas que tens de saber identificar os sinais de que aquele fim será o mesmo de outros que nunca quiseste.
Isto dito por uma gaja que anda a tentar pintar a tela de verde.
Muito sentido. Sinto o que escreveste. E há sempre tantas dúvidas!
Obrigado
Quem é o Pedro e porque me dizes obrigado??
"Obrigado" porque o teu texto cruza situações da minha vida e fez-me reflectir.
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