Pintar o mundo com cores

Foi sempre com fantasias que pintei o meu mundo com cores. Sonhos do que queria para o futuro, uma imagem daquilo que gostava de ser, imaginar sensações, de algo que me fizesse o coração bater mais depressa, pensar nas coisas materiais que um dia ia ter, nas pessoas que ia conhecer e no quanto me iam fazer sentir amada ou interessante ou melhor ainda, em tudo o que me podiam ensinar. Esquecer por alguns momentos o que tenho e pensar no que podia vir a ter. Sonhar acordada é como pintar, e foi a partir do dia em que só me sobraram os lápis de cor escura, por ter usado erradamente e em demasia os de cores garridas, que a minha imaginação se apagou e a vida se tornou real. Passei a ter que gostar apenas do que tinha, e pareceu-me tão pouco. Era pouco fazerem-me sentir desejo, era pouco andar mais um kilometro do que ontem na minha bicicleta, receber um abraço, ler um livro interessante, ver um bom filme ou ouvir música e era pouco também o cheiro a bolachas acabadas de sair do forno, o sabor de um copo de vinho, ou a água quente que sai da torneira e nos toca as mãos. Era tudo muito pouco, não me dava satisfação. Apaixonar-me era pouco, estar acompanhada era o mesmo que estar sozinha. De que serve estar bonita se não tenho quem me veja, e se o meu sonho foi embora. É melhor amar sem ser amada do que não sentir nada. E o amor sempre foi uma palete de cores mas agora não me é coisa alguma. Porque não consigo imaginar que um dia possa acontecer que ele me consiga voltar a fazer sonhar acordada. Porque não sei se sou capaz de voltar a tirar da caixa e usar correctamente, as cores mais coloridas.