20 outubro 2007

Pimenta na boca dos outros, para mim é refresco

Ser solteira e querer deixar de o ser torna-se cada vez mais complicado. Não me parece que quem teve sorte de se apaixonar aos 20 perceba o conflito interior das mulheres solteiras com mais de 30.

Acabo sempre por me sentir amoral por tentar procurar alguém para me fazer companhia. Admitir que não estamos bem assim não nos fica bem. Temos que procurar contentamento nos amigos, no trabalho, nas aulas do ginásio ou de pintura ou de fotografia. Uma mulher actual não se sente sozinha mas sim realizada. São as mulheres independentes. Não querer estar sozinha é fraqueza. Andamos tantos anos a tentar provar que não precisávamos de casar e ter filhos para sermos felizes portanto não se pode admitir esta grande fraqueza. Ainda por cima, são poucos os homens que querem o mesmo.

Já aprendi há muito tempo que não posso deixar de fazer o que gosto por falta de companhia. Viajo, vou ao cinema, faço compras e tomo todas as decisões sozinha. E faço-o muito bem.

Acabei por entrar num estilo de vida que não foi o que a minha educação me ensinou. Gosto de sair à noite, de beber até ficar levezinha, gosto que alguém me convide para jantar sem querer conhecer a minha família e gosto de ter alguém que me aqueça os pés à noite. Mesmo que seja só aquela noite porque mais sei que não vou ter.

Tenho a certeza que não sou a única mulher confusa com o que é esperado de nós. Mas acho que os homens também andam desorientados. Esqueceram-se de lhes explicar as consequências de se passar uma noite com uma mulher. Ou pelo menos esqueceram-se de lhes ensinar como lidar com a situação de forma correcta. Abandonam-se os filhos, espalham-se doenças e causam-se mossas emocionais. Também não foram avisados que nem todas as mulheres querem casar depois de uma noite de sexo. Mas uma palavra simpática no dia seguinte fica sempre bem. E depois disto tenho vontade de pedir a alguém que tenha escrito algo como “Boas Maneiras à Mesa” para escrever “Boas Maneiras nas Relações de Curta Duração”. Parece-me ser uma necessidade dos dias que correm.

Também ainda tenho esperança de um dia conhecer um homem que tenha a coragem de assumir as consequências de ter partilhado, de forma irreflectida, intimidade com uma mulher apaixonada. É sempre mais fácil ignorar, porque a dor dos outros não nos perturba. Pimenta na boca dos outros, para mim é refresco.

6 comentários:

Joaninha disse...

Palavras para quê? :(
A questão não poderia ter sido abordada de melhor maneira... :)Beijinhos e bom fim de semana!

Cláudia disse...

Olá Joaninha,

Fui ver o teu blog! Que perdição!! Vou tornar-me leitora regular! Para tirar umas ideias novas de receitas! Nham nham!!

Vespinha disse...

Do que tenho mais medo é de mim própria, de me habituar demasiado à ideia de agora estar sozinha e de não ter capacidade de prescindir disso para afinal ganhar muito mais...

Joaninha disse...

Obrigada Cláudia.:))))
Tenho andado um pouco afastada do blog por inúmeras razões (todas elas más,situações que apareceram umas atrás das outras de repente) e a vontade de cozinhar tem sidoquase nenhuma, mas aos poucos a boa disposição vai aparecendo :).

Concordo com a Vespinha, quanto mais o tempo passa mais difícil se torna precindirmos das nossas coisas, mas é tão bom poder adormecer e acordar com o "aconchego" de alguém que nos quer bem...

Anónimo disse...

Amiga muito obrigada.Ja escrevi e apaguei mil coisas...fzeste-me sentir duplamente bem hoje!Num dia que descobri que estava mesmo apaixonada por mais um perdido na vida... Compartilho da mesma es+erança que tu vamos envelhecer ao lado de alguem..tipo 12º??

Anónimo disse...

Conheces 1 de nome :)
A nossa amiga em comum je me tinha dito para ler este já que costumo dizer algo parecido com a pimenta é refresco e que estava excelente. Está realmente muito bom.Eu acabo por concordar contigo. Mas ao contrário.
Aquele abraço