22 janeiro 2015

Estranha forma de vida

Não sei se é sabido, mas gosto muito de Amália. Gosto de fechar os olhos e ouvi-la cantar. Imagino-me numa sala de espetáculos a sentir a sua voz. Nunca tive essa sorte. Conta-me a minha mãe como foi bom ter tido essa oportunidade.

Gosto de ouvi-la e sinto qualquer coisa semelhante ao que sente. Tem qualquer coisa que me faz sentir acompanhada. Têm este poder os grandes artistas. Os grandes pintores, escultores, escritores  e os outros todos.

Lembro-me de um questionário que preenchi um dia na Faculdade para ajudar a tese de alguém. Perguntava entre outras coisas se, quando olhava para um quadro ou uma escultura me sentia emocionada, se chorava. Respondi obviamente, que sim, tantas vezes me tinha sentido assim. Ouvi mais tarde uma conversa de corredor, dois colegas de turma a gozar com a pergunta, como se fosse absurda ou ridícula. Enchi o peito de orgulho. Que sorte tinha. De ver e sentir tanta coisa na sensibilidade dos outros.

É consolo dos não-artistas saber apreciar a arte dos outros, já que não temos nada de nosso. Saber ler um livro com prazer, ouvir uma música como se fosse cantada com a nossa alma, ou ver num quadro magnífico tudo o que a vida tem dentro dele.

Não tenho nenhum dom. Sei pouco sobre quase nada. Vivo perdida no meio da gente, cheia de paixão  e sigo um coração que não comando. Perdida, desisto às vezes de deixar o coração bater.

Bebo um copo de vinho, leio qualquer coisa e ouço uma canção. E zango-me porque não consigo deixar de correr, mesmo que me faça mal, e o coração não pare de sangrar. Perdi-me já há muito por não reconhecer quem sou. Por ver no espelho uns olhos estranhos fixados nos meus. Alguém que passsou por cá e partiu sabe-se lá para onde, sonhando os meus sonhos, deixando os olhos nos meus, dormindo na minha cama.

Sou como a Amália mas tenho uma convicção. Que o meu cançaso vem apenas pela certeza do que faço é feito apenas por mim.


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