E é por isso que sei que este texto é apenas um compromisso que assumo comigo mesma, de me esforçar para que corra tudo da forma que acredito ser melhor para as duas. Porque agora não estou cá só eu, há duas meninas na nossa casa.
Acredito que criar uma menina me seja mais difícil do que criar um menino. Porque já fui uma menina também, porque a vida das meninas começa a ser difícil quando o deixam de ser e porque vou ter sempre dúvidas se o que gostava que ela fosse não está demasiado relacionado com a minha experiência como menina.
E como se dá o exemplo à nossa filha quando eu mesmo ainda estou a tentar descobrir o que é isto de ser mulher?
Vou dizer-lhe que é bonita, mesmo que tenha acabado de acordar, com o cabelo despenteado e os olhos inchados, quando está transpirada de tanto correr, e não apenas quando tem um vestido bonito e uns sapatos novos.
Vou deixá-la correr e saltar e trepar às árvores que quiser, Não adianta dizer a uma criança tão energética que vai cair e se pode magoar.
Vou vestir-lhe vestidos catitas mas deixá-la ir ao parque "limpar" o escorrega com o vestido que estava tão branquinho.
Vou gostar do meu corpo para que goste do dela também, e vou deixá-la comer, comer com o apetite voraz que tem, mas terei que explicar que comer mal e demais é uma forma de desrespeitar o nosso corpo.
Vou contar-lhe as minhas histórias, e mostrar as minhas vulnerabilidades, para que saiba que partilhar intimidade é importante. Vou deixá-la chorar porque as lágrimas não são fraqueza.
Vou-lhe dar muitos abraços e beijinhos mas nunca obrigá-la a fazer o mesmo se não quiser.
Mais tarde, quero que saiba que tem o direito a ter opinião e dá-la bem alto, mas que nunca falte ao respeito a um professor. Não é assim que nos fazermos ouvir. E mostrar que tem sempre razão não é nada importante. Vou-lhe ensinar a dar o braço a torcer. Admitir um erro é uma grande qualidade.
Vou deixar que use roupas largas mas tentar perceber o que está de facto a esconder.
Vou deixá-la ir a casa das tias aprender a usar maquilhagem e pentear o cabelo, porque eu não o vou saber fazer. Vou ensiná-la que é bonita mesmo que não se preocupe com nada disso.
Vou ensiná-la a cozinhar, a passar e a cozer botões, não porque é menina mas porque a vai ajudar no futuro a ser independente.
Vou ensinar-lhe que ela não é a altura que tem, nem as roupas que veste, nem o namorado que a acompanha. Não é os livros que lê, nem os resultados dos exames que fez na escola. Ela não é a medida nem a escala que a sociedade criou para a avaliar.
E mais importante que tudo isto, só porque somos as duas mulheres, não vou querer que ela veja o mundo com os meus olhos, Ela tem os dela para que possa criar a personalidade dela. Mesmo que não seja nada daquilo que eu sou.
Espero que seja boa pessoa e que perceba que isso não significa deixar-se ficar para trás, para ajudar os outros. Vou ensiná-la a ser bondosa com os outros mas principalmente com ela própria.
Ela é um ser individual. E isso é mais importante do que ser minha filha ou mulher. E mais importante ainda é que eu a eduque todos os dias sem estar a pensar que estou a educar uma menina ou um menino. Estou apenas a tentar educar a Sara.
1 comentário:
Adorei Claudinha... Palavras tão bonitas que eu gostaria de ter passado para o papel com a mesma facilidade que tu! Mas tu fizeste isso por mim! Obrigada amiga! Beijinhos
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