22 março 2022

Mar revolto

 - Continuas aí,  agarrada às saias! Vai para dentro, sente vergonha!

Enrolava o dedos no avental, mirando o chão, a ponta dos chinelos.

- És uma vergonha. Sua puta.

Levantou o queixo e olhou-o, de sobrancelha arqueada!

- Puta? - desvia o olhar para um grupo de senhoras do outro lado da cidade, que passeavam na esplanada, conversando junto ao mar, os maridos seguindo-as uns metros atrás, com as chaves dos carros enfiadas nos dedos e as camisolas penduradas aos ombros- Puta eu? - responde agora já de olhos e lábios caídos - As mulheres são todas putas.

Fechou a porta de casa e a falta de luz envolveu- a até à cozinha, onde sentada à mesa, olhava para a vida dos outros, que continuava na rua, através  da janela por onde entrava o sal do mar que lhe comia as paredes por dentro.

Sem comentários: