Surpreendida há pouco tempo pela pergunta "Qual é o seu lema de vida?", e depois de pedir uns segundos para poder pensar, respondi que depois da minha filha nascer, decidi tentar ser uma pessoa melhor. Sem a certeza que fui compreendida, dei a mais honesta das respostas sem nunca sequer ter reparado que tinha de facto um lema de vida.
Nunca reflecti muito sobre o que significava ser mãe, ou porque é que o queria ser. Mas descobri depois de ela nascer que merecia uma boa mãe. O que quer que seja que isso signifique.
Não era justo que ela tivesse um mãe sempre de mal com a vida, cansada, a beber um copo de vinho no final do dia porque nada corre como devia. A resmungar mesmo quando o céu está bonito, ou deitada no sofá porque doem as pernas.
Se eu ia ser um exemplo a seguir, queria ser o melhor que podia ser. Tinha pelo menos que tentar. Tentar sorrir mais, dizer obrigada e por favor mais vezes, pensar mais no bem estar dos outros, comer menos do que me faz mal, sair do sofá para apanhar vento e luz, não desperdiçar e não perder tempo com o que não é importante.
A minha filha tornou-se a minha professora espiritual. Tenho agora uma pequena voz que me faz ver o que está bem e o que está mal. É uma voz que não vem de um qualquer lugar imaginado. É uma voz real, de alguém que se senta ao meu lado e que há dois anos e meio me ensina como é bom quando tentamos ser uma pessoa melhor.
Aprendo com ela porque me imita a pôr creme na cara e a lavar os dentes. Porque repete as minhas expressões e tem o mesmo sotaque que eu. É como um espelho onde vejo o meu bom e o meu mau. Porque um dia vai imitar o que vê quando trata os outros com ou sem bondade ou generosidade. Quando escolher os seus passatempos, a comida que põe no prato, se põe lixo no chão. Vai decidir se cumprimenta os vizinhos que se cruzam com ela no elevador, se vai gostar de aprender, se vai ser importante para ela esforçar-se e nunca desistir. O tamanho da auto estima e que importância terão os amigos. Se vai respeitar quem é diferente dela.
Aprendo com ela a abrandar e que é bom não fazer nada. Ou ficar uma tarde toda a empurrar um baloiço num dia cheio de sol e de vento. Aprendo que é bom não ter um dia de férias todo planeado e cheio de coisas para fazer. Que é bom fazer tudo mais devagarinho. Ensinou-me a aproveitar todos os momentos que passo com ela.
Quando regressa da escola de triciclo, ela mostra-me todas as flores e ervas que nascem nas fendas do cimento do passeio, os pedaços de plástico pendurados na árvore, o caracol que sobe o muro, as pedrinhas que vai guardando no bolso, os carreiros de formigas e mais uma dezena de coisas que nunca tinha visto. Faz pelo caminho perguntas que nem sempre sei responder e que me ensinam que é bem mais importante tentar descobrir como a responder do que tentar saber qual a razão de ser ou o que fazemos aqui. O que interessa o sentido da vida quando nos perguntam "Como é que tens a certeza que não há um monstro nas escadas?".
Tenho em casa um zen master. Deu-me asas para voar. E ensino-lhe pouco porque é ela que me ensina mais a mim.
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