Descobri um cantinho só para mim, nesta casa velha cheia de humidade, que me deixa isolada das ocupações de uma cidade. Sentada no parapeito largo da janela, com duas almofadas e os joelhos flectidos, olho a rua e os carros que de vez em quando passam. Encolhida e encarcerada entre a janela e a cortina, posso intoxicar-me com tudo o que quiser. Com os pensamentos mais meus que nunca. Tristes, alegres, revisões do dia que passou, planificações do tempo que vem a seguir. Alí naquele quadrado de espaço o ar frio da rua entra dentro de mim, vai trazendo o sono muito lentamente até que sinto que é hora de enfrentar a cama. Esse outro esconderijo onde às vezes passo tantas horas a dormir profundamente para não me lembrar e que ultimamente me rejeita, abandonada às insónias de quem não sabe bem o que anda a fazer. Espaços pequenos que me fazem pensar e às vezes até escolher aquilo que quero sonhar, mesmo assim acordada. Por vezes sonhos outras vezes pesadelos, mas são meus e vêm de um cantinho que sinto ser só meu. Onde sinto que sou só eu.
1 comentário:
Mais do que uma descrição, merecia um quadro... daqueles pintados em tons pastel, retocados a cores fortes, e c a luz dum pequeno candeeiro no canto, a iluminar pedaços de pele...
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