23 setembro 2008

Cantinhos

Descobri um cantinho só para mim, nesta casa velha cheia de humidade, que me deixa isolada das ocupações de uma cidade. Sentada no parapeito largo da janela, com duas almofadas e os joelhos flectidos, olho a rua e os carros que de vez em quando passam. Encolhida e encarcerada entre a janela e a cortina, posso intoxicar-me com tudo o que quiser. Com os pensamentos mais meus que nunca. Tristes, alegres, revisões do dia que passou, planificações do tempo que vem a seguir. Alí naquele quadrado de espaço o ar frio da rua entra dentro de mim, vai trazendo o sono muito lentamente até que sinto que é hora de enfrentar a cama. Esse outro esconderijo onde às vezes passo tantas horas a dormir profundamente para não me lembrar e que ultimamente me rejeita, abandonada às insónias de quem não sabe bem o que anda a fazer. Espaços pequenos que me fazem pensar e às vezes até escolher aquilo que quero sonhar, mesmo assim acordada. Por vezes sonhos outras vezes pesadelos, mas são meus e vêm de um cantinho que sinto ser só meu. Onde sinto que sou só eu.

1 comentário:

Catarina disse...

Mais do que uma descrição, merecia um quadro... daqueles pintados em tons pastel, retocados a cores fortes, e c a luz dum pequeno candeeiro no canto, a iluminar pedaços de pele...