Hoje fui à Fnac comprar prendas de Natal. Já aprendi há algum tempo que consigo comprar livros mais baratos se procurar as versões originais (não traduzidas). No meios dos livros em inglês, encontrei The Wind in the Willows. E fiz uma viagem ao passado.
Comecei a gostar de ler muito mais tarde do que as minhas irmãs. Só por volta dos 15 ou 16 anos comecei a passar muito tempo com os livros. E só uns anos mais tarde, já bastante mais velha do que elas li o que já tinham lido. Fiquei com pena de o não ter feito antes, quando os livros eram importantes para a minha formação e para a leitura que podia fazer do mundo. Achei que livros como Brave New World, do Aldous Huxley podiam ter tido um impacto muito diferente se os tivese lido mais nova. Numa altura em que precisava de compreender como funciona o mundo.
Comecei a ler livros infantis da Sophia de Melo Breyner, Os Cinco, Uma Aventura, mas seguiu-se um espaço de alguns anos em que não li nada, até voltar a gostar de ler, uns anos mais tarde.
Porque tenho necessidade encontrar explicação para tudo e de arranjar forma de me livrar da culpa do que fiz ou não, sempre expliquei estes anos de escuridão literária com The Wind in the Willows. Como tentativa para me pôr a ler, a minha mãe, preocupada com o meu estado de estupidificação, deu-me este livro. Pensou que me ia cativar mas acabou por me pôr nas mãos um livro entediante que me traumatizou e me tirou a vontade de voltar a ler durante alguns anos.
Nunca mais me esqueci deste livro. Era pesado e chato, tinha a capa dura e gasta nas pontas e cheirava a mofo. Nunca passei dos primeiros capítulos. Foi o culpado do meu atraso literário.
Depois de passar o trauma, o período de recuperação foi longo mas voltei a gostar de ler. Li tudo o que a minha mãe tinha nas estantes. Hoje na Fnac lembrei-me de como vivi sempre com tão pouco. Só aos 25 anos tive dinheiro para comprar os meus livros. Ia à waterstone na Princes Street em Edimburgo e comprava muitos livros. Os que eu queria ler e não os que a minha mãe gostava de ler. Descobri um mundo novo. Livros sobre o que me preocupava ou interessava.
Hoje trouxe para casa um livro do Philip Roth. Para mais uma vez poder esquecer a minha vida aborrecida e viver a vida de um personagem de ficção qualquer.
2 comentários:
Cláudia, há coincidências interessantes :). Acontece que também estive hoje na fnac a comprar as primeiras prendas de Natal e assim como tu fui direita às estantes dos livros não traduzidos :). Encontrei o que queria e sabe sempre muito bem pagar menos! :) Outra coincidência é o facto de ter tido um percurso semelhante ao teu no que diz respeito aos livros. Quando era pequena os meus pais eram sócios do Circulo de Leitores e lembro-me que todos os meses eu e a minha irmã tinhamos direito a escolher um livro,e como eu adorava! Na altura os meus preferidos eram os da Condessa de Ségur,uma conhecida escritora russa de literatura infantil. Fizeste-me reviver esses bons velhos tempos... :)
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